Sozinho na sala observo as putas das moscas que sem receios vão tentando aterrar no meu corpo. São verdadeiros seres vivos, mais vivos do que eu alguma vez estive. Elas dançam, adquirem formas e o zumbido entra na minha cabeça de uma forma tão agressiva, que sinto os miolos a estalar como um vidro...
Não as vejo, apenas oiço o bater das suas asas. Apenas a televisão ilumina tudo muito debilmente, e a luz suave torna os movimentos ainda mais surreais. O ar vai-se tornando áspero e pesado, a acção é frenética.
As moscas continuam na luta, sem parar, sem parar, sem parar, tentam libertar-se do frágil corpo que insiste em prendê-las. É um frenético bater de asas que as levam do céu ao meu corpo em milésimos de segundo.
Subitamente, sinto uma mosca pousar muito delicadamente na minha perna, ganho coragem e pego no instrumento mortal que tenho mais a mão, o comando da TV. Com movimentos muito suaves preparo-me para a derradeira dose. Já não há escolha. Transpiro de ansiedade, o fim está próximo.
E Puummm!!! Já está. Oiço o pequeno tecido que a envolve a rasgar a sua alma, e as asas lisas a bater pela última vez. Por segundos fico calmo, é o fim, mas eu sei que não acaba...
Bzzzzzzzzzz.........
quinta-feira, março 31
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