
É obvio que já todos ouvimos falar do terror que é chegar ao aeroporto de Luanda, mas viver isso pessoalmente não tem descrição. É como alguém nos contar como é perder a virgindade, só depois de passarmos por isso é que realmente temos noção do que é. E mais, por muito que nos contem, cada pessoa vai viver o seu filme de diferente maneira. O meu foi assim:
Ainda no avião comecei por ver uma confusão total à porta do aeroporto. Mal parámos despedi-me das hospedeiras com o sentimento muito especial, acho que sabia que era a última vez que estava a ver alguém com princípios iguais aos meus. Quando começo a descer as escadas senti logo um bafo e um cheiro muito próprio desta terra, no entanto, prefiro deixar os comentários lá mais para a frente. Depois, mandaram-nos entrar numa sala com mais ou menos 100m2 que estava a rebentar pelas costuras. Era impossível tantas pessoas estarem lá dentro, aliás, não era mesmo possível visto que eu tive de ficar na rua. Depois fiquei mais ou menos uma hora na fila até chegar ao posto de controlo, onde um senhor muito pouco simpático me perguntou:
- O que vens aqui fazer?
- Venho de férias - respondi-lhe eu.
Ele olhou-me nos olhos com um ar bastante desconfiado, voltou a olhar para os meus documentos e carimbou a minha entrada.
Achei que já tinha passado a pior parte, quando andei mais dez metros e olhei para o sítio onde estavam as minhas malas. Que susto, que medo, centenas de pessoas a olhar para mim de cima para baixo e a perguntar se quero um táxi. No meio daquilo tudo lá encontrei as minhas malas e preparava-me para sair quando um rapaz veio ter comigo e me disse:
- Olha, eu deixo-te passar aqui no controlo de bagagem mas tens que me dar dinheiro.
- Mas eu ainda não tenho dinheiro – respondi eu muito assustado.
Ele estava a começar a chegar muito perto e eu meio assustado tentava-me dirigir para a porta de saída onde tinha o motorista à minha espera. Insisti que não tinha dinheiro, mas à medida que um me deixava chegavam mais três que me rodeavam e me pediam o mesmo. Alguns agarravam nas minhas malas e diziam: “eu levo, eu levo”.
Levas o tanas, pensava eu. Puxava a mala mais para o pé de mim e lá consegui chegar à porta de saída. Lá fora o filme é ainda pior, passam de centenas para milhares de pessoas a tentarem-se comer umas as outras para chegar o mais perto possível, por sorte o senhor Paulo estava logo ali que os afastou e levou-me para o carro onde me trancou a sete chaves. Eu estava encharcado, pingava suor por tudo o que era sítio e acredito que o meu ar fosse bem chamativo para quem quer ganhar uns trocos. A sensação é de ter o estômago cheio de bichos, tinha a certeza que estava no sítio errado na hora errada. Estava muito mal disposto e cheio de medo. Pensei que não havia a mínima hipótese de me habituar a isto…
O Sr. Paulo lá chegou e levou-me dali para fora. Foi um mau momento… muito mau…

Eu até estava com muita vontade de ir aí mas depois do teu testemunho, só vou se o Sr. Paulo estiver lá à minha espera...
ResponderEliminarUiii!