quinta-feira, dezembro 16

O do costume...

Estava uma noite de puro inverno. Ele, o do costume, caminha tranquilamente na madrugada fria que se abatia sobre a velha cidade. Em seu redor tudo estava frio, escuro e sem graça. Um enorme nevoeiro caiu sobre a cidade deixando uma sensação de solidão, como se nada o separasse das trevas. Não sabe onde vai, qual é o destino, nem aonde pretende chegar. Apenas caminha em passos lentos e calculados, caminha sem saber que vai ao encontro da sua própria alma. É uma caminhada longa, será preciso redescobrir-se, reinventar-se, nascer de novo...

Passados 12 meses....

Ele, o do costume, continuava tranquilamente a pé na madrugada fria, agora, numa nova cidade. O retorno a casa é agora o destino final. De repente, ao de longe, alguém diferente parece vir a surgir do meio do nevoeiro... dava ares de uma figura simples, talvez meia perdida como ele... A memoria já lhe falhava, tal o tempo que já tinha passado desde a ultima vez que se viram. Começou a pensar no que vai dizer, no que fazer. Na tentativa de se mostrar descontraído, fingiu que não a viu. Subitamente, ao cruzarem-se, ela agarra-lhe no antebraço, puxa-o com força e aproxima o seu rosto do dele. O silencio ganha corpo e abate-se entre eles um clima de nostalgia. Os corpos aproximaram-se, os lábios colavam suavemente um no outro, mas o silencio mantinha-se sobre eles. Nada havia a dizer, os medos já não existiam, as feridas já tinham sido curadas. Subitamente, os dois ao mesmo tempo procuraram na boca a verdade do calor que o coração expelia. O mundo silenciara-se por entre a paz de tal momento. Era um beijo cheio de emoções perdidas no tempo...

Passados 3 minutos

Ele, o do costume, desperta e depara-se sozinho, numa ruela do Chiado, na mesma madrugada fria. Mesmo a sua frente, sem razão aparente, tem um livro aberto que diz: “sim, comi a língua, não quero dizer mais nada, só penso no teu encanto permanente, um encanto que talvez já não exista e isso faz de mim um viciado, um ser preso ao passado. Deixei-me ir numa dança comandada pela vontade de outra mão, não era uma dança livre, estava condenada a agir só em extremo desespero”

Sem comentários:

Enviar um comentário