terça-feira, fevereiro 17

Desabafo!!!


Quando tirei o curso de publicidade e pensei um dia criar o meu próprio negocio com uns amigos, nunca acreditei que isso pudesse acontecer, muito menos em Angola e com um sócio negro. Não porque tenha alguma coisa contra eles, mas porque a probabilidade de isso acontecer assim o ditava. Mas lá no fundo quando pensava em grande, a ideia era forma um negocio e torná-lo num grande nome a nível mundial, fazer fortunas. Achava sempre que ia ser um daqueles que aparece nas capas das revistas com uma cara sorridente. Pensei que ia ser daqueles homens de quem falam no dia a dia...
Mas agora que tenho a empresa e a oportunidade de que isso aconteça, acho que começo a pensar de outra maneira, o destino não está a querer entrar nessa onda.
Tenho acordado a pensar que devia mas é aproveitar o pouco tempo que me resta... sinto que os meus sonhos não mudam nada na sociedade. Há dias chatos que me sinto fraco e falhado...
Independentemente de tudo o que possa acontecer, quando eu morrer tudo vai continuar igual, ninguém se vai lembrar de mim... irei servir apenas como mais um personagem da passagem dos humanos pela terra. Porque hei-de eu estar preocupado?!
Ups parou!!! Chega de pensar em pensamento negros. Mas que raio de nome fui eu dar ao blog. Vamos lá fazer um esforço para puxas os pensamentos positivos. Ora bem, considerando tudo até agora e o pelo futuro que se apresenta pela frente, até me possa sentir um rapaz orgulhoso de estar a viver. O problema foi sempre com as mulheres. As mulheres são criaturas muito sensíveis, algumas delas sensíveis de mais... Aqui no Lubango sinto que as mulheres não são tanto assim, mas julgo ser fácil de perceber o porque da tristeza e da magoa da maioria delas. Mas as que tive até hoje são diferentes. Todas elas sonhavam sempre em ser princesas e ter um príncipe que as levasse para o mundo encantado. Sei que algumas têm essa sorte (pelo menos as que tive), mas a maioria nunca vai sentir realizado o seu desejo...
Na minha opinião as mulheres portuguesas gostam de romance, de ter um homem que as surpreenda e seja querido, mas sem que seja demasiado feminino. Mas acho que os homens tugas estão cada vez mais egoístas e a viver para si próprios quebrando os laços quer de amor, como de amizade de uma forma muito mais fácil. Infelizmente eu enquadro-me nesse tipo. Mas sinto que estou a mudar, afinal de contas, já li em algum sítio que somos muito mais felizes quando fazemos alguém feliz.

A Barraca


A casa é fixe! É a antiga casa do Administrador Municipal do Lubango. Tive de fazer algumas mudanças devido a minha pouca habituação a viver com as baratas mas já estou 98% instalado, os outros 2% é porque me falta uma Playstation. Sei que ainda houve alguém que a comprou, mas que depois a devolveu num acto de... sei lá eu... talvez tenha sido bom não ter trazido. Ao menos tenho visto muitos filmes e series. A sala mistura-se com os postos de trabalho da Africad num ambiente muito acolhedor, é sem dúvida a parte que mais gosto da casa. Nela passo grande parte do meu dia, ora a trabalhar, ora a pensar em coisas que não devo. Deve ser por isso que tenho trabalhado muito... O quarto é bom, mas o medo de alguns bichinos que por ai andam faz com que acorde várias vezes durante a noite e inspeccione o meu quarto de uma ponta a outra. Graças ao dum dum as minha inspecções acabam sempre sem resultados conclusivos.
Tenho duas senhoras que tratam de tudo. A Filomena que recebe 150$ e é quem faz a papinha. Ela ainda está numa fase de aprendizagem, mas acho que é um género de João Moutinho da cozinha Mundial. A outra é a Fátima, trabalhava em casa do meu Pai mas ele despediu-a porque diz que ela cheira mal. Não achei justo e contratei-a. Ganha 100% dólares e trata mais da lida da casa; roupas, camas, etc... À porta tenho dois seguranças que trocam entre eles de três em três dias. Um diz que não percebe o que eu digo, mas eu gosto dele. o outro é um caso serio, numa das três noites acaba sempre bêbado e a dizer que ama Angola e que foi fuzileiro na guerra. Tem dois dentes visíveis e cheira a álcool. Tenho tentado falar com ele para que as coisas andem de uma forma mais “sóbria”, mas até agora os resultados são pouco visíveis.
As semanas de trabalho constante desabituam-me dos prazeres de beber um copo e conversar com alguém, mas acho que isso está a mudar, o Gonçalo já chegou e gosta pouco... Até já...

O meu primeiro rap africano!

Ouve bem a minha dica

Puto ouve bem a minha dica
Não tens muita solução
Ou te fazes à escola
Ou podes esquecer a tua geração

Sou branco e cheiro a pula
Mas o que pulo é de emoção
Em ter vindo para a tua terra
E me ter entregado de coração

Aposto que vais crescer
E criar muita sensação
Mas puto... ouve bem a minha dica
Vai para a escola... foge da solidão.


Hóracio de mente

Os dias têm estado negros...


A todos os que seguem o meu blog peço desculpa pela minha tão longa ausência. Gostava de vos poder dizer que estou bem e forte, mas não consigo esconder que há dias muito difíceis por aqui. Pensei que já sabia lidar bem com a solidão que se sente por estar longe de tudo e de todos, mas acho que desaprendi tudo o que em Londres assimilei. Ou talvez sejam situações diferentes com sentimentos opostos que fazem com os meus dias variem entre o bom e o mau. Alguém com mais sabedoria rapidamente me diria que eu não estou bem, e eu sei que algo se passa, mas quando tento fazer uma auto-analise não encontro o porque e isso intensifica a minha dor.
O trabalho corre bem, os clientes têm ficado surpreendidos com a magia e empenho que demonstro em todas os meus actos profissionais, mas eu sei que no fundo algo se esconde por trás deste meu profissionalismo mascarado de cinismo. Vou continuar a tentar perceber, mas sem que isso deixe os meus sentidos completamente endurecidos. Acho que vivo todos os meus segundos a tentar por em ebulição o meu mundo interior e tentar descobrir a solução desta minha equação do pensamento. Tantos matemáticos e físicos a ganharem prémios Nobel; mas será que ninguém pode inventar uma fórmula ou uma álgebra do espírito para que se possa calcular o produto dos nosso problemas?! Ai vida esta que me fazes viver nas águas sujas do pensamento... Xo, xo, xo daqui!

Mudei de casa



Finalmente e depois de três longas semanas a viver com o meu Pai, mudei de casa. Viver com o meu Pai foi bom, acho que aproximou mais a nossa relação e fez com ele percebesse que eu sou alguém. A sua postura impressionou-me, todas as conversas que tivemos, apesar da sua teimosia em não querer ouvir a opinião dos outros, acabavam sempre por me deixar humilhado e com vergonha do meu às vezes ego demasiado elevado. A idade é sem dúvida um posto, aliás, se a experiencia é adquirida com o tempo e o passar das coisas, é lógico que quem anda cá há mais anos, terá de ter mais experiencia. Ouve várias alturas que tive de morder os lábios para impedir que as lágrimas jorrassem pelo meu rosto. Mas sei que ele também sente algo de especial em relação a mim. Sou como um espelho rejuvenescedor.
É pena que esta experiência com o meu Pai só agora tenha acontecido, tenho a certeza que teria sido muito mais útil a quando da minha adolescência. Agora é difícil mudar o que 29 anos traçaram, faço um esforço até porque sinto a amargura de poder vir a ter uma situação idêntica com os meus filhos. Não gostava que isso acontecesse, gostava de estar mais perto da vida deles e não ser só aos 29 anos que o meu filho vai se sentir enriquecido com as conversas do Pai. Acho que ainda estou a tempo, não vim para ficar... vim sim para garantir que isso vai acontecer... triste situação esta que nos faz distanciar para no futuro nos aproximar... ai vida ai vida que me fazes viver nas águas sujas do pensamento... Xo, xo, xo daqui!!!

quinta-feira, fevereiro 5

More than words



A minha sombra salvou-me a vida (Deserto do Namibe – Fevereiro de 2009)

É obvio que toda a gente já me tinha avisado dos problemas que há em andar sozinho por estas terras insólitas, mas já se sabe como é que é o bom português, gosta de meter o nariz em tudo. No passado domingo aproveitei o sol brilhante que se fazia sentir e decidi ir para a praia. A praia para quem ainda não sabe fica a uma hora e meia da cidade do Lubango, mas propriamente na belíssima cidade do Namibe. Para lá chegar tem de se atravessar o belo e monstruoso deserto do Namibe.O outrora fértil deserto do Namibe é dos desertos mais antigos e estéreis do mundo. A sua área é de aproximadamente 2.000 km x 50-160 km, numa faixa corre ao longo da costa atlântica. Montanhas isoladas erguem-se do deserto e as enormes dunas de areia podem atingir 400 m de altura.As temperaturas podem disparar para os 40 graus Célsius, ou até mais, quando sopra o vento quente e seco do Leste. Curiosamente, estes ventos ocorrem na estação fria, entre Abril e Agosto, e são habitualmente fortes e quentes. Transportam detritos (restos de plantas e insectos) provenientes do interior, essenciais para a conservação da vida, fornecendo alimento aos seus pequenos habitantes.Tudo indicava para mais uma viagem tranquila e rotineira, já lá tinha estado duas vezes e tudo tinha corrido bem. Gosto de andar por ai montado na minha segunda casa e conhecer novas aldeias e cidades que apesar de todas pertencerem ao mesmo país, todas têm sempre algo de peculiar e diferente. Alguém já me tinha falado do incrível resort “os flamingos”, situado à beira mar a cerca de 20 km do centro do Namibe. Como tinha uma importante reunião com o Administrador Municipal no dia seguinte de manhã, achei que era a altura certa para ir conhecer este sitio à beira mar, saborear uma bela lagosta enquanto o sol se escondia por detrás da linha do horizonte e dormir num sitío em condições. Assim foi, fiz-me à estrada, o sol ainda brilhava na sua máxima plenitude e atravessava o céu na minha direcção. Duna após montanha cheguei a um desvio que dizia: “Hotel Lodge Flamingos 23km”. Era mesmo aqui. Entrei devagar para conhecer o terreno e logo percebi que tinha de atravessar as enormes dunas que separavam a estrada da praia. Sempre achei que o meu jipe fosse capaz de superar tal obstáculo, não tivesse ele o nome de santa fé, mas passados 10km de duro 4x4 ele cedeu e a roda direita da frente ficou presa numa imponente duna. Eram 18:15, tinha aproximadamente 30m de luz pela frente e um telemóvel sem cobertura de rede à já duas horas. Tentei arranjar umas madeiras para por debaixo do pneu e tirar o carro dali, mas sem efeito. A noite aproximasse e medo apoderou-se de mim. Tentei manter a calma e pensar na melhor solução. Estava destroçado, tinha suor a escorrer pelo corpo todo e rapidamente me apercebi que não era do calor que se fazia sentir, mas sim da adrenalina que tinha tomado conta dos meus sentidos. O escuro da noite apoderou-se da paisagem e eu fiquei dentro do carro ainda na esperança que alguém passasse por ali a caminho do Hotel. Não tinha água, nem comida e se quisesse andar até à estrada tinha de caminhar 10 km em pleno deserto. Depois de duas horas no carro sem saber o que fazer, decidi sair e fumar o cigarro da descontracção. É inexplicável a quantidade de sons diferentes que se conseguia ouvir. Nunca pensei que um deserto tão árido e vazio fosse habitado por tantos seres. No meio daqueles sons, a uns 20 metros de mim consegui vislumbrar duas pequenas luzes, que por alguns segundos pensei que fossem pirilampos do deserto. Lol… realmente só um tuga com a mania que é esperto podia pensar isso. Afinal de contas, quando observei com mais atenção, percebi que eram os olhos de algo muito brilhante que me observava. Os sons aumentavam à mesma medida que o medo me fazia apagar o cigarro e voltar rapidamente para dentro do carro. Liguei o carro, acendi as luzes e percebi que os pirilampos eram sim uma hiena muito porca e com um ar esfomeado que rondava o meu carro. Fiquei aterrorizado, passou-me tudo pela cabeça, mas ouve algo que ficou bem claro na minha mente, do meu carro não saia mais… Hienas??? Só as tinha visto no National Geographic e pelo que sei atacam os leões. Assim passei a noite, a transpirar suores gelados enquanto olhava pela janela sempre achar que alguém estava na iminência de atacar. Estava triste, cansado e esfomeado. Percebi que toda a tecnologia que está ao serviço do homem no meio do deserto é inútil. Só me restava esperar que a luz do dia voltasse e alguma alma bondosa passasse por ali… A noite passou, e os primeiros raios de sol acordavam os meus pensamentos sombrios e davam-me a força para agir. Depois de muito pensar, percebi que nada mais me restava do que caminhar na companhia da minha sombra e na certeza de que alguém me ia encontrar e salvar deste filme deserto de personagens felizes. Assim foi, sai do carro e agarrei no primeiro pau que consegui encontrar, sempre na ilusão de que era a melhor arma caso alguns dos animais que comigo pernoitaram no deserto quisessem atacar. Caminhar nas grandes metrópoles é bastante mais fácil do que no deserto. Ali requeria um gasto de energia grande, mas o mais assustador era não conseguir por de lado os negros pensamentos que invadiam a minha cabeça. No meio das dunas e com os pés já muito calejados, via o meu carro e único ponto de abrigo a ficar longe, cada vez mais longe. Sentia o calor a tomar conta do meu corpo mas não tirava a roupa com medo que o meu cheiro atraísse algum animal. Comecei a caminhada às 5:30 da manhã e por volta das 6:15 o meu pior pesadelo tornou-se realidade: a hiena voltou a aparecer e a rodear o meu caminho. Ela estava sozinha, eu também. Mano a mano, pensei eu... Nesta altura de terror senti uma força enorme a invadir a minha mente. A partir deste momento mágico em que a minha existência ficou em risco, senti que nada mais me restava do que enfrentar a risonha hiena que com toda a certeza achava que tinha pequeno-almoço incluído. Sempre que sentia que estávamos mais próximo do que era desejável, atacava-a com o meu pau e ela retirava-se alguns metros mas sem nunca me perder de vista. Assim foi durante os 10 km de caminhada pelo deserto, era como um jogo de Poker, onde eu usava o meu bluff para o meu adversário se retirar. Quando cheguei à estrada, já pelas 7:30, a hiena retirou-se de vez e deixou-me sozinho, sem forças mas com vontade de sorrir por ter vivido tal filme. Durante a minha caminhada muitos outros bichos cruzaram o meu caminho, alguns deles nem consigo identificar, mas nenhum foi capaz de me atacar. Acho que teria sido derrotado em poucos segundos, ou talvez não, mas de que vale agora pensar no que podia ter acontecido… Estou vivo e bem vivo! Valeu a experiência! O carro está como novo… Vale a pena dizer que depois de tudo, acabei por não ir ao resort e duvido que vá lá tão cedo. Valeu a minha sombra e o facto de as hienas só atacarem quando estão juntas. Força Angola!!!

terça-feira, fevereiro 3

Os meus primeiros amigos...

O carro...


O meu carro é a minha segunda casa. É nele que eu guardo tudo o que normalmente tenho em casa: roupas, CDS, livros, cigarros, toalhas, etc.
Assim como a minha casa o meu carro guarda muitos segredos, risos e choros. Nele espero vir a ter bons momentos, escrever, beber jolas e descobrir, quer no banco da frente quer no de trás… é no fundo a minha casa dinâmica, mesmo estando sentado ou deitado estou no mundo, perto de tudo e de todos os que quero estar. Mas sobre tudo perto de mim…

Adoro o meu carro!

Chegada ao Lubango

Acho que começo a gostar disto!
O Lubango é uma cidade tipicamente Angola. É a segunda maior a nível populacional, tem um milhão e duzentos mil habitantes. Esta, como a maioria das cidades que já conheci, é povoada de vendedoras de fruta, peixes e legumes, que descem à cidade vindos dos mercados, com alguidares na cabeça recheados de suculentas mangas, ananases ou carapaus (estes não tão suculentos). Todos estes vendedores são geralmente afáveis e humildes, sem assediarem demasiado os passantes, apenas não gostam que lhes tirem fotografias, por medo de represálias por parte da polícia, que passa o dia a persegui-los de um lado para o outro. Só as vendedoras de frutas e legumes beneficiam de alguma tolerância e condescendência.Milhares de desempregados encontram na venda ambulante uma solução de recursos para os seus problemas de sobrevivência. Estão, na sua maioria, ao serviço de comerciantes libaneses, indianos e chineses, que os abastecem a partir dos seus armazéns. Tudo se vende e tudo se compra: cabides de plástico ou de madeira, malas com as ferramentas mais diversas, acessórios de automóveis, bicicletas para criança, isqueiros para o fogão, sapatos desportivos, jornais e revistas, tapetes, candeeiros de quarto, tábuas de passar a ferro, malas de viagem e os inevitáveis relógios e óculos de sol.Apesar de estarmos num dos países mais pobres do mundo, ninguém se surpreende com os modelos topo de gama que circulam no Lubango: dos Porsche, Mercedes e BMW, aos novíssimos Hummer e jipes japoneses importados directamente do Dubai por 50 mil dólares (é o caso do meu sócio). Por força do afluxo de capitais decorrente das vendas de petróleo e diamantes, o Lubango é também uma cidade estupidamente cara - ao nível de Lunada -.Mas o mais impressionante para o viajante que aterra no Lubango, é a extensão a perder de vista dos bairros de musseques nos arredores da cidade. Este mar de favelas foi crescendo desordenadamente e sem o mínimo de condições durante os anos de guerra, à medida que as populações do interior procuravam refúgio dos combates e da fome. Hoje, a maioria dos habitantes que vive no Lubango são jovens sem qualquer tipo de raízes nas províncias de origem dos seus pais e avós.No que diz respeito aos transportes, a cidade é dominada pelos chamados "candongueiros", carrinhas Hiace de cor azul e branca, com condutores que correm como loucos pelas ruas, servindo os bairros periféricos.As ultrapassagens fazem-se tanto pela esquerda, como pela direita e por todos os espaços que existam. Outro desafio é o de evitar pôr "a pata na poça" dos esgotos a céu aberto que correm nalguns passeios ou conseguir traçar o seu caminho no dédalo de carros estacionados em cima do passeio, evitando as crateras causadas pela degradação dos mesmos ou a ausência de tampas nos buracos de esgoto.Ainda não deu para conhecer tudo, mas a primeira impressão é boa. Não existe o perigo e a confusão que se vive em Luanda e as pessoas são mais simpáticas. Para já ainda estou a viver em casa do meu Pai, aqui as coisas andam um pouco mais devagar… bem… muito mais devagar.

Chegada


É obvio que já todos ouvimos falar do terror que é chegar ao aeroporto de Luanda, mas viver isso pessoalmente não tem descrição. É como alguém nos contar como é perder a virgindade, só depois de passarmos por isso é que realmente temos noção do que é. E mais, por muito que nos contem, cada pessoa vai viver o seu filme de diferente maneira. O meu foi assim:

Ainda no avião comecei por ver uma confusão total à porta do aeroporto. Mal parámos despedi-me das hospedeiras com o sentimento muito especial, acho que sabia que era a última vez que estava a ver alguém com princípios iguais aos meus. Quando começo a descer as escadas senti logo um bafo e um cheiro muito próprio desta terra, no entanto, prefiro deixar os comentários lá mais para a frente. Depois, mandaram-nos entrar numa sala com mais ou menos 100m2 que estava a rebentar pelas costuras. Era impossível tantas pessoas estarem lá dentro, aliás, não era mesmo possível visto que eu tive de ficar na rua. Depois fiquei mais ou menos uma hora na fila até chegar ao posto de controlo, onde um senhor muito pouco simpático me perguntou:
- O que vens aqui fazer?
- Venho de férias - respondi-lhe eu.
Ele olhou-me nos olhos com um ar bastante desconfiado, voltou a olhar para os meus documentos e carimbou a minha entrada.
Achei que já tinha passado a pior parte, quando andei mais dez metros e olhei para o sítio onde estavam as minhas malas. Que susto, que medo, centenas de pessoas a olhar para mim de cima para baixo e a perguntar se quero um táxi. No meio daquilo tudo lá encontrei as minhas malas e preparava-me para sair quando um rapaz veio ter comigo e me disse:
- Olha, eu deixo-te passar aqui no controlo de bagagem mas tens que me dar dinheiro.
- Mas eu ainda não tenho dinheiro – respondi eu muito assustado.
Ele estava a começar a chegar muito perto e eu meio assustado tentava-me dirigir para a porta de saída onde tinha o motorista à minha espera. Insisti que não tinha dinheiro, mas à medida que um me deixava chegavam mais três que me rodeavam e me pediam o mesmo. Alguns agarravam nas minhas malas e diziam: “eu levo, eu levo”.
Levas o tanas, pensava eu. Puxava a mala mais para o pé de mim e lá consegui chegar à porta de saída. Lá fora o filme é ainda pior, passam de centenas para milhares de pessoas a tentarem-se comer umas as outras para chegar o mais perto possível, por sorte o senhor Paulo estava logo ali que os afastou e levou-me para o carro onde me trancou a sete chaves. Eu estava encharcado, pingava suor por tudo o que era sítio e acredito que o meu ar fosse bem chamativo para quem quer ganhar uns trocos. A sensação é de ter o estômago cheio de bichos, tinha a certeza que estava no sítio errado na hora errada. Estava muito mal disposto e cheio de medo. Pensei que não havia a mínima hipótese de me habituar a isto…

O Sr. Paulo lá chegou e levou-me dali para fora. Foi um mau momento… muito mau…