segunda-feira, outubro 4

THE RIGHT CHOICE...

"Acontece comigo e com quase todos. Quando estamos diante de uma possibilidade de relacionamento é comum perguntar-mos ao nosso subconsciente se a pessoa em questão é a melhor para nós. Inicialmente pensamos nas afinidades, nas características em comum que nos garantiriam que a relação funcionaria bem. Consideramos também o que o outro tem para nos oferecer, no que se pode ganhar e aprender. Por fim, lembramo-nos de nós mesmos, dos nossos gostos, da nossa maneira de ser, do que podemos dar a quem está connosco.

Estar satisfeito com o amor que se encontra parece ser muito raro. É impossível alguém que nos satisfaça totalmente, alguém que nos complete. A única forma de acreditarmos nisto é nunca alcançando o ideal pretendido. Arranjamos sempre uma forma da coisa dar errado. Parece que o importante não é encontrar o amor, mas manter a máquina que nos faz acreditar que um dia poderemos encontrar um amor perfeito e final, um sentido último para as nossas vidas. Qualquer coisa que ameace o funcionamento desse aparelho de sentido ilusório deve ser eliminada de nosso horizonte. Defendemos com unhas e dentes a nossa ilusão, o nosso engano, as nossas mentiras: é melhor não saber disso.

Mas teremos outra alternativa? Como manter o amor por alguém se o que sustenta a paixão é a dificuldade, a distância, a eterna marca de algo que se perdeu?

Para dar essa difícil resposta talvez devêssemos pensar que nossa dor é mais profunda. Não se trata de recuperar algo que se perdeu ou de ganhar algo que nos falta, mas perceber o amor como um encontro com aquilo que nunca tivemos nem nunca teremos, aquilo que nos é impossível, aquilo que faz da vida e do outro um mistério absurdo e inalcançável. Só essa sombra permite o encanto, a paixão.

Uma tarefa árdua. Estamos acostumados a ver e a medir as pessoas à nossa volta pela sua imagem, pela sua aparência, por aquilo que elas nos teriam para nos completar, por aquilo que seria claro e racional. Ela é rica, ele é alto, ela é medrosa, ele é cabrão, ela é interesseira.

Parece que morremos de medo de amar. Amar exige que nos mantenhamos na incerteza, na surpresa, no acidente. Precisamos olhar para o outro e não vê-lo, como um fantasma. Alguém que nunca possuiremos, alguém que nos escapa permanentemente, uma pessoa que desde o princípio estamos condenados a perder, um mortal.

O amor talvez exija alguém que possua a coragem de seguir amando sem o medo de não ser amado, alguém que não tema caminhar no desconhecido. Como no verso de Drummond, alguém que saiba amar depois de perder. Alguém que suporte a angústia de não se deixar enquadrar em nenhum lugar imaginário e que, assim, permita a quem está ao seu lado a possibilidade viver a experiência rara de amar."

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